terça-feira, 14 de abril de 2009

Silvia Plath


Não tenho nada a ver com explosões", diz um verso de Sylvia Plath.

Eu li como se tivesse sido escrito por mim. Também não faço muito barulho,
ainda que seja no silêncio que nos arrebentamos.Tampouco tenho a ver com o espaço sideral, com galáxias ou mesmo com estrelas. Preciso estar
firmemente pousada sobre algo - ou alguém.
Abraços me seguram. E eu me agarro. Tenho medo da falta de gravidade: solta demais me
perco, não vôo senão em sonhos. Não me sinto à vontade onde o sol tem dificuldade de entrar. Prefiro praia, campo aberto, horizonte, espaço pra correr em linha reta. Ou
para permanecer sem susto. Não tenho nada a ver com boate, com o som alto impedindo a voz, com a sensualidade comprada em shopping, com o ajuntamento que é pura
distância, as horas mortas desgastando o rosto, a falsa alegria dos ausentes de si mesmos. Não tenho nada a ver com o que é dos outros, seja roupas, gostos, opiniões ou irmãos, não me
escalo para histórias que não são minhas, não me envolvo com o que não me envolve, não tomo
emprestado nem me empresto. Se é caso sério eu me dôo, se é bobagem eu me abstenho, tenho
vida própria e suficiente pra lidar, sobra pouco de mim para intromissões no que me é ainda mais estranho do que eu mesma. Não tenho nada a ver com cenas de comerciais de tevê, sou um filme sueco, uma comédia britânica, um erro de adaptação, um personagem que
esquece a fala, nada possuo de floral ou carnaval, não aprendi a ser festiva, sou apenas fácil. Não tenho nada a ver com igrejas, rezas e penitências, são raros os padres com firmeza no
tom, é sempre uma fragilidade oral, um pedido de desculpas em nome de todos, frases que só
parecem ter vogais, nosso sentimento de culpa recolhido como um dízimo. Nada tenho a ver com
não gostar de mim. Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei. Não tenho nada a ver com galáxia, mato, boate, a vida dos outros, os comerciais de tevê e igrejas.
Meu mundo se resume a palavras que me perfuram, a canções que me comovem, a paixões
que já nem lembro, a perguntas sem respostas, a
respostas que não me servem, à constante perseguição do que ainda não sei. Meu mundo se
resume ao encontro do que é terra e fogo dentro de mim, onde não me enxergo, mas me sinto.

Minto, tenho tudo a ver com explosões.