sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Jorge Luis Borges


BORGES, SÓ MAIS UMA VEZ
“Creio que a poesia é algo tão íntimo, algo tão essencial, que não pode ser definido sem se diluir. Seria como tentar definir a cor amarela, o amor, a queda das folhas no outono... Eu não sei como podemos definir as coisas essenciais. Penso que a única definição possível seria a de Platão, precisamente porque não é uma definição, senão porque é um fato poético. Quando ele fala da poesia, diz: ‘essa coisa leve, alada, sagrada’. Isso, eu acredito, pode definir, de certa forma, a poesia, já que não a define de um modo rígido, senão que oferece à imaginação essa image3m de um anjo ou de um pássaro”.
“Sim, a arte da literatura é misteriosa. Não é menos misteriosa que a música. Bem, quiçá a literatura seja uma música mais complexa ainda que a música, já que nela se encontram não apenas a cadência das palavras e o som, senão as conotações, o ambiente e o sentido – uma poesia completamente insensata se não aceita: devemos pensar o que isso significou para alguém; sobretudo algo para a emoção de alguém. E isso é intraduzível.”
Acreditem, ler JORGE LUIS BORGES é fundamental.

Alguns conselhos de JORGE LUIS BORGES, com ligeiras adaptações. O escritor fala de literatura, mas creio que se ajustam perfeitamente àquilo que julgo ser bom no ofício de representar. Quando, por exemplo, nos chama a atenção para a importância de evitar “o cambalacho de palavras que não nos ajuda nem a sentir nem a pensar”. Ou quando sugere “trabalhar o idioma imprimindo-lhe um tom de voz própria”. Há mais uma, mais outras e esta você pode usar para a vida, até: “qualquer destino, por longo e complicado que seja, consta da realidade de um único momento: o momento em que o homem sabe para sempre quem é”. Para os que insistem/teimam no naturalismo, uma sugestão: deixem de lado a reprodução fiel do real porque elas esgotam suas possibilidades narrativas e se tornam apenas “mera verossimilhança sem invenção”. Ou, mais precisamente: “a abstração, a imprecisão, a alusão, a elipse são operações do discurso necessárias, portanto, para ativar uma educação do esquecimento que omita deliberadamente tudo aquilo que não for de interesse para as peripécias do relato”. Enfim, é preciso optar por não dilatar o relato com a “configuração psicológica das personagens e limitar-se a desenhar o perfil dos protagonistas identificando neles apenas os traços que são pertinentes à história”. Será sempre essencial “a intimidade de um tom conversacional que, alheio a qualquer ênfase rítmica, sonora ou expressiva, aspire a comunicar o fato poético, e não a declamá-lo”. É fundamental “ a busca de uma entonação que, sustentada no gesto discreto da confidência, revele a beleza da palavra poética”. E acrescento, com num punch line, “é preciso recuperar a dimensão mágica que a palavra, com o uso corriqueiro ao longo do tempo, terá perdido”. Muito grato, Borges!

Vergonha de Mim!

SINTO VERGONHA DE MIM
Sinto vergonha de mimpor ter sido educador de parte desse povo,por ter batalhado sempre pela justiça,por compactuar com a honestidade,por primar pela verdadee por ver este povo já chamado varonilenveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mimpor ter feito parte de uma eraque lutou pela democracia,pela liberdade de sere ter que entregar aos meus filhos,simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios,a ausência da sensatezno julgamento da verdade,a negligência com a família,célula-mater da sociedade,a demasiada preocupaçãocom o “eu” feliz a qualquer custo,buscando a tal “felicidade”em caminhos eivados de desrespeitopara com o seu próximo.
Tenho vergonha de mimpela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,a tanta falta de humildadepara reconhecer um erro cometido,a tantos “floreios” para justificaratos criminosos,a tanta relutânciaem esquecer a antiga posiçãode sempre “contestar”,voltar atráse mudar o futuro.
Tenho vergonha de mimpois faço parte de um povo que não reconheço,enveredando por caminhosque não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,da minha falta de garra,das minhas desilusõese do meu cansaço.Não tenho para onde irpois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hinoe jamais usei a minha Bandeirapara enxugar o meu suorou enrolar meu corpona pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti,povo brasileiro!
***
“De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderesnas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto”.

MORAL OU A GRANDE FALTA DELA



(“RELATIVO AOS COSTUMES”)


Segundo nosso querido Aurélio, a moral (feminino) é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. E o moral (masculino) o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha.De acordo com José Ferrater Mora, em se tratando de ética (inteiramente identificada com o ou a moral), Aristóteles considerava que as virtudes éticas se desenvolvem na prática, são virtudes que servem para a realização da ordem na vida – a justiça, o valor, A AMIZADE, etc. A sabedoria e a prudência estão também nesse pacote.Minha questão é: o que está acontecendo no mundo?Onde está a moral das pessoas?Só estou vendo sordidez e falta de amor ao outro no sentido mais amplo da palavra.Só estou vendo o quanto todos estão afundando e se enxovalhando num mar de imoralidade ou melhor, amoralidade.Essas mensagens de final do ano, então, são o fim. Todos falando um monte de mentiras. Li diversos textos e um deles, em especial, conclamava que a palavra de ordem era o respeito. Que respeito? Hipocrisia, isso sim.Cadê a ação?Onde está a vontade do ser humano de fazer algo de que, realmente, se orgulhe. Pensando na vida, não furtivamente e sim com a visão de que aqui, estamos tendo reais possibilidades de aprendizados maiores.Em nome de muito pouco se põe a perder valores que nunca deveriam ser questionados.Então, gostaria de pedir a todos que me ajudem a escrever sobre o que pensam e desejam dos amigos, amores, familiares, políticos, professores, patrões, empregados ou qualquer tipo de relação humana.Onde vocês detectam mais facilmente essa falta de moral e ética que nos está assolando sem perdão?A partir do que vocês me escreverem, vou abrir forte debate sobre a questão.

Agradeço a ajuda de todos vocês.

Polaróides Urbanas


VOCÊ É TÃO VADIA QUANTO EU, POIS EU TE AMO E NEM ASSIM VOCÊ ME RESPEITA !


Essa é uma das frases geniais de Miguel Falabella em seu primeiro filme como diretor.“Polaroides Urbanas” é simplesmente comovente.Fui à estréia e voltei essa semana para assisti-lo novamente e estou pronta para assistir muito mais vezes. Quero poder comprar o filme quando estiver a disposição. Não sou de comprar filmes, mas sempre que me apaixono por alguns filmes, os compro e guardo-os como relíquias, objetos de coleção. Polaroides Urbanas é um filme desse tipo para mim, assim como os filmes de Almodóvar, Fellini etc.Eu fui apaixonada pelo texto de Como encher Um Biquini Selvagem, tão ricamente defendido por Cláudia Jimenez nos velhos tempos do Teatro Casa Grande, que, aliás, nos faz muita falta. Fui “n” vezes assisti-la.Quando fui ao filme, a maior parte dos diálogos voltavam a minha mente como se eu os tivesse ouvido ontem.Cláudia se dividia em todos os personagens o que era fantástico.No filme eles são representados pelos melhores atores que poderiam ter sido escolhidos.Seria leviano ir falando de um por um, pois TODOS estão fantásticos, sem exceção. Além de serem ótimos atores, claramente se sente a direção de um ator/diretor.Isso faz mesmo toda a diferença.Faz diferença uma pessoa como Miguel Falabella. Como poucos, aproveita cada oportunidade que a vida lhe oferece e corre atrás dos desafios com uma garra invejável.O filme é maravilhoso, deliciosamente engraçado, emocionante, com produção impecável e um bom gosto danado.Engraçado, se fala de tudo, nossos problemas afetivos, sociais, financeiros, familiares e não tem um tiro. Isso não é ótimo?Não percam.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Carta ao Zézim- Caio Fernando Abreu


Trecho da Carta ao Zézim - Caio Fernando Abreu

Porto, 22 de dezembro de 1979(...)

A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentemente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.(...)Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.