MON ANIMAL
Eu a vejo quase todas as manhãs.Não é exatamente bonita.Aliás, ela é de uma feiúra estranha como se carregasse uma boniteza espalhada em si,nos gestos e não nos traços exatamente. Não importa.
Importa é que a vejo acompanhada perenemente pelo seu cão. Um pastor alemão com cara de bom companheiro. É o que vejo. Olha a muito, encaixa seu focinho entre os joelhos dela, gane querendo dengo. Ela também, essa minha vizinha de uns quarenta e vividos anos, brinca de não-solidão com esse cachorro específico; gosta dele, ri:
- Não Duque, assim não, deixa o moço, Duque, me espere. Não vá na minha frente assim, cuidado com o carro, menino.
Ele a olha como quem agradece. E vão os dois, não em vão, pelas ruas de Copacabana sob o sol felizes que só vendo. Eu vejo.
Ela é camelô; nos encontramos no elevador e eu:
-Vocês se divertem tanto, é tão bonito.
-É, nos conhecemos na rua. Ele olhou pra mim bem nos meus olhos. Eu estava trabalhando. Vi logo que era um cão bem cuidado fisicamente, mas faltava, mas faltava-lhe carinho. Deixei minhas bugigangas (ela vende coisas que querem imitar jóias antigas) por não sei quanto tempo e fiquei agachada na calçada da Avenida Nossa Senhora, só namorando ele. Decidimos que ele viria morar comigo. Naturalmente. Tudo aconteceu “naturalmente”, ela frisou, como se quisesse dissipar de qualquer de mim qualquer sombra de suspeita de um possível roubo.
Noutro dia, no mesmo elevador ela com seu carrinho de balangandãs, eu e o Duque. O elevador apertado e ela continuou, à moda feminina, a conversa do último elevador nosso:
-Tenho certeza que ele é de Câncer. É muito sensível, só falta falar, né Duque?....ele na é lindo.
-Lindíssimo. E você que signo é?
-Ah, eu sou Capricórnio, mas com ascendente em Câncer, combina sim.
Eu vejo Duque lambendo as mãos dela, as magras mãos cujos dedos ela oferecia de propósito à “imordida” dele. Eu olho admirando receosa por conta dos afiados dedos dele.Quase não entendo de cães.
-Ah, você tem medo...ô...não ofenda ele; Duque entende pensamentos e não gostou do que você pensou.Jamais me morderia, jamais me trairia.Né Duque?
Senti o pensamento de Duque latindo que jamais a trairia. Achei bonito. Chegamos.
-Tchau, bom trabalho.Tchau Duque.
Fui para a rua pensando longamente nos dois,. Depois pensei nos mistérios da astrologia e perdi o fio do meu pensamento. Ao final da tarde avistei o crepúsculo na praia.
Depois vi os dois voltando sorridentes e caninos, sob a noite estrelada; ela com fitas de vídeo penduradas ao braço; sempre conversando com ele.
Tenho inveja de Ângela. Essa é que é a verdade. O animal que eu quero não mora comigo, não almoça mais comigo,não brinca mais, não me telefona, não me adivinha os pensamentos, não me acompanha ao crepúsculo, não gane querendo dengo, nossos signos parecem não mais combinar. O animal que eu quero, pensa demais e por isso não passeia mais comigo.
E o pior, não me lambe mais.
Elisa Lucinda.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Eua
Porto Alegre
Brasil - 20h02 -
Manifestantes na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre (RS) erguem cartazes contra a votação do projeto de reurbanização do Pontal do Estaleiro. O vereador Haroldo de Souza (PMDB) foi atingido por diversas moedas jogadas em sua direção durante a manifestação. O projeto, para ser aprovado, precisa receber 19 votos favoráveis.
EUA
Estados Unidos - 20h37 -
Casais homossexuais se dirigem ao Tribunal Superior de New Haven (Connecticut) para cerimônias de casamento. O Estado legalizou nesta quarta-feira a união civil entre pessoas do mesmo sexo e se tornou o segundo em todo o território americano a autorizar esse tipo de união - o outro é Massachusetts.
Chile
Chile - 21h07 -
Manifestante usa máscara do personagem Darth Vader, da série Star Wars, durante protesto contra o governo em Santiago. Milhares de funcionários públicos entraram em greve na terça-feira para exigir aumento salarial para compensar a maior inflação dos últimos 14 anos. No cartaz, lê-se: "Vidal (porta-voz do governo), sou seu padrasto; nos dê os 14,5%".
Angus Young
Coréia do Sul
Andy Garcia
Espaço
Espaço - 5h02 -
Imagem captada pela sonda Cassini e divulgada pela Nasa mostra a aurora boreal de Saturno. De acordo com cientistas, o planeta possui um tipo próprio de aurora boreal, o que ocasiona o brilho em sua calota polar. As auroras são causadas por partículas carregadas que fluem ao longo das linhas do campo magnético de um planeta para a atmosfera.
Greenpeace
Estados Unidos
Áustria
Brasil
Brasil - 17h32 -
Carro atinge placa de trânsito em meio a tiroteio entre traficantes rivais no morro dos Macacos, em Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro. Pelo menos seis pessoas morreram e cinco ficaram feridas na troca de tiros. As vítimas fatais foram identificadas como uma mulher de 70 anos, atingida por uma bala perdida na cabeça, e cinco suspeitos.
EUA
Estados Unidos - 20h09 -
Emma Weldert-Roth, 10 anos, segura cartaz em apoio a seus pais homossexuais em protesto contra a aprovação da Proposta 8 no Estado da Califórnia, em Denver (Colorado). Mais de mil pessoas participaram da manifestação contra a lei estadual que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No cartaz, lê-se: "Eu amo meus pais gays".
Cuba
Obama
Estados Unidos - 13h35 -
O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, é visto dentro de seu carro na chegada à academia, em Chicago. O democrata fez um agradecimento muito ao povo de Illinois em uma carta publicada neste domingo no jornal Chicago Sun-Times e em outros meios de comunicação de seu Estado Natal.
Rio de Janeiro
Brasil - 15h31 -
Policiamento é reforçado na Vila Isabel, na zona norte do Rio de Janeiro. No sábado, seis pessoas morreram e outras seis ficaram feridas durante confronto entre traficantes rivais na região. Na madrugada deste domingo, dez homens armados promoveram um arrastão na rua 24 de Maio, no Engenho Novo, também na zona norte.
Grêmio
Brasil - 21h09 -
O zagueiro Réver (dir.), do Grêmio, domina a bola na partida contra o Coritiba, no Estádio Olímpico, em Porto Alegre (RS). O tricolor gaúcho não deixou o São Paulo aumentar a distância na liderança do Campeonato Brasileiro. Ao bater os paranaenses por 2 a 1 em casa, a equipe gaúcha vai a 66 pontos e se mantém na cola dos paulistas, que têm 68.
Nicarágua
Brasil
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Os componentes da banda
Adélia Prado
O menino da vizinha dos fundos, trepado no muro como ele vive, deve ter investigado bem o meu quintal, porque hoje me gritou: "do-o-na, do-o-na, a mãe falou se a senhora quer vender umas panelas pra ela." Me desgostou muito a forma de pedir, o pedido em si. Com tanto vizinho, porque Dona Alvina foi enxergar logo as minhas panelas? A distância entre a casa dela e a minha é a mesma entre a casa dela e a do Osmar Rico. É claro que percebeu minha fraqueza. Não posso esconder, está na minha cara a atração que exercem sobre mim. São como diamantes no cascalho. Pobres, eu os farejo, pressinto, me ofereço a eles como manjar. As panelas, se estavam no barracão é porque estavam mesmo sobrando. O que não me falta é panela. Por que então não fui capaz de pegar a melhor delas e dar para Dona Alvina com o coração exultante de poder ajudar? De jeito nenhum. Primeiro disse ao menino, contrariada: as panelas não são de vender não. Fiquei com raiva dela falar em comprar, já sabendo que eu não ia vender. Logo me arrependi, chamei o menino de volta e peguei a melhor panela, mas não pense que mandei a tampa junto. Achei-a boa demais, servia pra tampar o caldeirão onde gosto de cozinhar batatas. Dei a panela pura. Foi uma bondade boba, pela metade, sem nenhum valor. Não descansei enquanto não inventei um meio de visitar Dona Alvina. Com um mês só na casa velha, toda escorada, que o dono do curtume deu para ela morar, já fez horta, jardim, os cacarecos são limpíssimos. A menina pequetita, paninho na cabeça, brinquinho de ouro na orelha desensebada. Fui com desculpa de comprar cebolinha e fiquei sabendo: ela faz faxina nas casas, o marido trabalha fora e só vem fim de semana, eles não são daqui não. Muito bem, pois saí sem ter coragem de dizer a ela a única coisa que meu coração pedia que dissesse: olha, Dona Alvina, somos vizinhas e a senhora pode contar comigo no que precisar, estou à sua disposição. Isto falei toda emproada pra Dona Leonor, pra Dona Ester, porque no fundo sabia, são destas vizinhas que pedindo um dente de alho pagam logo com uma réstia de cebolas, enfim, me serviriam quando eu precisasse sem me dar amolação. Dona Alvina é diferente, porque é precisada mesmo. Se me pedir cinqüenta cruzeiros vai demorar um ano pra pagar. Qual é o dinheiro que entra lá que seus quatro crioulinhos não consomem num átimo? E ela deve pensar assim: "Dona Violeta é rica, pode muito bem esperar." Posso mesmo. Por que então, meu Deus, não sei ajudar a Alvina? Empresto o dinheiro, passam nem duas semanas fico dizendo: ao menos satisfação eu merecia; não é por causa do dinheiro. E outras bobagens mais que todo mundo fala nestas situações. O fato é que estou chateada com a mudança deles pra cá. Antes era Dona Terezinha que, bem ou mal, eu vivia acudindo. Passou mais de ano sem morador na casa, um verdadeiro descanso. Agora envém Dona Alvina que, sem saber, é um ferrão na mão de Deus. Não chupo mais uma bala sem pagar um dízimo de tristeza. Claro que está tudo errado, qualquer sacristão bobo sabe disso, menos eu que não atino com a forma de gozar dos frutos da terra, criados por Deus para todos comerem em perfeita alegria, eu inclusive. Demoraram um dia só para descobrir minha mangueira de cinqüenta metros: "do-o-na, a mãe falou se pode emprestar a mangueira pra nós aguar a horta?" Este batido durou um mês. Pedro até botou um trapo no muro pra não esfolar a borracha. Depois foi ficando chato. Queria lavar o carro, aguar nossa horta mais cedo, a mangueira com Dona Alvina. Bibia falava: "mãe, que povo folgado, vai ser descansado assim! Acho a senhora e o pai muito bobos." Não podia aplaudir a menina, mas por seguro matutamos: a voz das crianças é a voz de Deus. De noite Pedro bateu na casa da Alvina para bispar a situação. Se pudesse, falou o marido, mandava ligar a água, mas onde vou arranjar dinheiro? Pedro foi na Companhia, pagou a taxa, acabou a questão da mangueira. Nem assim sosseguei: será que foi correto? Não teria sido mais edificante emprestar a mangueira com paciência até eles arranjarem modo de pagar a taxa? Vejo o marido da Alvina passar aos sábados com umas mexericas que ele arranjou pra vender e penso: nem pra dar uma satisfação, um sinal. Pedro nem se lembra mais. É diferente de mim, nunca dá meia panela. Por isso a alegria dele é inteira.
Texto extraído do livro "Os componentes da banda", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1988, pág.19.
O menino da vizinha dos fundos, trepado no muro como ele vive, deve ter investigado bem o meu quintal, porque hoje me gritou: "do-o-na, do-o-na, a mãe falou se a senhora quer vender umas panelas pra ela." Me desgostou muito a forma de pedir, o pedido em si. Com tanto vizinho, porque Dona Alvina foi enxergar logo as minhas panelas? A distância entre a casa dela e a minha é a mesma entre a casa dela e a do Osmar Rico. É claro que percebeu minha fraqueza. Não posso esconder, está na minha cara a atração que exercem sobre mim. São como diamantes no cascalho. Pobres, eu os farejo, pressinto, me ofereço a eles como manjar. As panelas, se estavam no barracão é porque estavam mesmo sobrando. O que não me falta é panela. Por que então não fui capaz de pegar a melhor delas e dar para Dona Alvina com o coração exultante de poder ajudar? De jeito nenhum. Primeiro disse ao menino, contrariada: as panelas não são de vender não. Fiquei com raiva dela falar em comprar, já sabendo que eu não ia vender. Logo me arrependi, chamei o menino de volta e peguei a melhor panela, mas não pense que mandei a tampa junto. Achei-a boa demais, servia pra tampar o caldeirão onde gosto de cozinhar batatas. Dei a panela pura. Foi uma bondade boba, pela metade, sem nenhum valor. Não descansei enquanto não inventei um meio de visitar Dona Alvina. Com um mês só na casa velha, toda escorada, que o dono do curtume deu para ela morar, já fez horta, jardim, os cacarecos são limpíssimos. A menina pequetita, paninho na cabeça, brinquinho de ouro na orelha desensebada. Fui com desculpa de comprar cebolinha e fiquei sabendo: ela faz faxina nas casas, o marido trabalha fora e só vem fim de semana, eles não são daqui não. Muito bem, pois saí sem ter coragem de dizer a ela a única coisa que meu coração pedia que dissesse: olha, Dona Alvina, somos vizinhas e a senhora pode contar comigo no que precisar, estou à sua disposição. Isto falei toda emproada pra Dona Leonor, pra Dona Ester, porque no fundo sabia, são destas vizinhas que pedindo um dente de alho pagam logo com uma réstia de cebolas, enfim, me serviriam quando eu precisasse sem me dar amolação. Dona Alvina é diferente, porque é precisada mesmo. Se me pedir cinqüenta cruzeiros vai demorar um ano pra pagar. Qual é o dinheiro que entra lá que seus quatro crioulinhos não consomem num átimo? E ela deve pensar assim: "Dona Violeta é rica, pode muito bem esperar." Posso mesmo. Por que então, meu Deus, não sei ajudar a Alvina? Empresto o dinheiro, passam nem duas semanas fico dizendo: ao menos satisfação eu merecia; não é por causa do dinheiro. E outras bobagens mais que todo mundo fala nestas situações. O fato é que estou chateada com a mudança deles pra cá. Antes era Dona Terezinha que, bem ou mal, eu vivia acudindo. Passou mais de ano sem morador na casa, um verdadeiro descanso. Agora envém Dona Alvina que, sem saber, é um ferrão na mão de Deus. Não chupo mais uma bala sem pagar um dízimo de tristeza. Claro que está tudo errado, qualquer sacristão bobo sabe disso, menos eu que não atino com a forma de gozar dos frutos da terra, criados por Deus para todos comerem em perfeita alegria, eu inclusive. Demoraram um dia só para descobrir minha mangueira de cinqüenta metros: "do-o-na, a mãe falou se pode emprestar a mangueira pra nós aguar a horta?" Este batido durou um mês. Pedro até botou um trapo no muro pra não esfolar a borracha. Depois foi ficando chato. Queria lavar o carro, aguar nossa horta mais cedo, a mangueira com Dona Alvina. Bibia falava: "mãe, que povo folgado, vai ser descansado assim! Acho a senhora e o pai muito bobos." Não podia aplaudir a menina, mas por seguro matutamos: a voz das crianças é a voz de Deus. De noite Pedro bateu na casa da Alvina para bispar a situação. Se pudesse, falou o marido, mandava ligar a água, mas onde vou arranjar dinheiro? Pedro foi na Companhia, pagou a taxa, acabou a questão da mangueira. Nem assim sosseguei: será que foi correto? Não teria sido mais edificante emprestar a mangueira com paciência até eles arranjarem modo de pagar a taxa? Vejo o marido da Alvina passar aos sábados com umas mexericas que ele arranjou pra vender e penso: nem pra dar uma satisfação, um sinal. Pedro nem se lembra mais. É diferente de mim, nunca dá meia panela. Por isso a alegria dele é inteira.
Texto extraído do livro "Os componentes da banda", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1988, pág.19.
Dona Doida
Dona Doida
Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
Adélia Prado
Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.
Quero minha mãe
Adélia Prado
Abel e eu estamos precisando de férias. Quando começa a perguntar quem tirou de não sei onde a chave de não sei o quê, quando já de manhã espero não fazer comida à noite, estamos a pique de um estúpido enguiço. Sou uma pessoa grata? Às vezes o que se nomeia gratidão é uma forma de amarra. Entendo amor ao inimigo, mas gratidão o que é? Tenho problemas neste particular. Se aviso: passo na sua casa depois do almoço, acrescento logo se Deus quiser, não sendo grata, temo que me castigue com um infortúnio. Bajulo Deus, esta é a verdade, tenho o rabo preso com Ele, o que me impede de voar. Como posso alçar-me com Ele grudado à cauda? Uma esquizofrenia teológica, eu sei, quando fica tudo confuso assim, meu descanso é recolher-me como um tatu-bola e repetir até passar a crise, Senhor, tem piedade de mim. Até em sonhos repito, Senhor, tem piedade de mim, é perfeito. Sensação de confinamento outra vez, minha pele, minha casa, paredes, muro, tudo me poda, me cerca de arame farpado. Coitada da minha mãe, devia estar nesta angústia no dia em que me atingiu: “trem ordinário” Com certeza não suportava a idéia, o fardo de ter-que-dar-conta-daquela-roupa-de-graxa-do-meu-pai, daquele caldo escuro na bacia, fedendo a sabão preto e ela querendo tempo pra ler, ainda que pela milésima vez, meu manual de escola, o ADOREMUS, a REVISTA DE SANTO-ANTONIO. Mãe, que dura e curta vida a sua. Me interditou um reloginho de pulso, mas não teve meios de me proibir ficar no barranco à tarde, vendo os operários saírem da oficina, sabia que eu saberia o motivo. Duas mulheres, nos comunicávamos. Tá alegre, mãe? A senhora não liga de ficar em casa, não? Posso ir no parque com a Dorita? Vai chamar tia Ceição pra conversar com a senhora? Nem na festa da escola, nem na parada pra ver eu carregar a bandeira ela não foi. Não dava para ir de “mantor” porque era de dia com sol quente, gastei cinqüenta anos pra entender. Teve uma lavadeira, a Tina do Moisés, que ela adorava e tratava como rainha. Sua roupa acostumou comigo, Clotilde, nem que eu queira, não consigo largar. Foi um tempo bom de escutar isto, descansei de vê-la lavando roupa com o olhar perdido em outros sítios, sentindo e querendo, com toda certeza, o que qualquer mulher sente e quer, mesmo tendo lavadeira e empregada. Tenho sonhado com a mãe tomando conta de mim, me protegendo os namoros, me dando carinho, deixando, de cara alegre, meus peitinhos nascerem e até perguntando: está sentindo alguma dor, Olímpia? É normal na sua idade. Com certeza aprendeu, nas prédicas às Senhoras do Apostolado, como as mães cristãs deviam orientar suas filhas púberes. Te explico, Olímpia, porque pode te acontecer na escola, não precisa levar susto, não é sangue de doença. Achei minha mãe bacana, uma palavra ainda nova que só os moleques falavam. Coitadas da Graça e da Joana, que nem isso ganharam dela. Morreu antes de me ensinar a lidar com as incômodas e trabalhosas toalhinhas. mãe, mãezinha, mamãezinha, mamãe, e o reino do céu é um festim, quem escondeu isto de você e de mim?
Casamento
Adélia Prado
Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil""prateou no ar dando rabanadas"e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva.
- Adelia Prado is a Brazilian writer !
Adélia Prado
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Hamilton
Ah, Lula !!
Casamento Afegão
Afeganistão - 13h48 -
Homens observam os destroços de casa atingida por um ataque aéreo americano, em Kandahar. Pelo menos 15 civis, entre eles seis crianças e três mulheres, morreram no bombardeio. Segundo informações das autoridades locais, as vítimas estavam participando de um casamento no momento da ofensiva.
Amy Winehouse
UK
EUA
China
República Checa
Praça da Sé
Brasil - 13h -
Ativista entra dentro de jaula na praça da Sé, na região central de São Paulo, para protestar contra o confinamento dos animais. O grupo está no local desde as 8h e pretende permanecer até as 20h. Segundo o publicitário Daniel Coelho, um dos idealizadores da idéia, a iniciativa simula o sofrimento dos animais que são submetidos a esse tipo de tratamento.
Paloma
EUA
Estados Unidos
France
França - 15h11 -
Cães vestem camisetas de apoio ao presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, em uma pet shop de Paris. A loja aproveitou a "Obamania" e já vendeu em menos de um mês mais de 100 roupas para cachorros com o rosto do democrata. Segundo a administração da empresa, a maior parte dos clientes é composta por turistas estrangeiros.
Brasil
Brasil - 11h25 -
Manifestantes protestam contra a crise na economia global em frente a hotel em que é realizada a reunião do G20, em São Paulo. A reunião anual do grupo, formado por 19 países mais a União Européia (UE), tem como principal foco de discussão o processo de reformulação do sistema financeiro mundial.
EUA- 2:04
sábado, 8 de novembro de 2008
Veja- Itens Olímpicos
Apresentação em 1968- Quem sou eu? Ah, como me espanto. Nasci pequeno e cresci aos poucos. Só mais tarde cheguei as extremos.
1969- Freud se enganou. As mulheres não têm inveja do pênis. Têm inveja da água encanada.
1970-Inegável: as menores seduzidas quase sempre são muito sedutoras.
1971-Brasil condenado á esperança.
1972-O primeiro preceito do algemado é não pensar em comichão.
1973- Vou já passando do meio da vida e descubro espantado, que ainda estou em Pirapora.
1974-
1975-Metafísica. Por que somos sempre mais novos nas fotos velhas e mais velhos nas fotos novas.
1976- O ano de 1976 terá 365 dias, 52 semanas e 12 meses. Caso as autoridades não decidam nada em contrário.
1977-Pergunta recorrente: Como é que você bola tudo isso?
Resposta: Com concentração, observação, variação de ponto de vista, pesquisa, auto- análise, aférese, ênclise, próclise, jogo de palavras, artifícios filosóficos, indignação, frustrações pessoais, repressão sexual, pressão baixa, pressão alta, incapacidade para qualquer profissão digna, lendo velhos almanaques, tomando banhos frios, olhando garotas quase nuas que passam em direção á praia, vendo bombas caindo no quengo dos vietnamitas, assistindo Cinema Novo, sabendo que tudo é assim mesmo e afirmando sempre o contrário e, claro, influenciado pela pergunta de toda hora: '' COMO É QUE VOCÊ BOLA TUDO ISSO?''.
1978-Um tirano pode evitar uma fotografia.Mas não pode evitar uma caricatura.
1979-Se você acha que a mula sem cabeça não existe é porque nunca olhou em volta.
1980-Pois é isso que está no Congresso eles ainda chamam de evolução da espécie.
1981-Minha vitória: sou um homem comum levado as suas extremas consequências.
1982-Equilíbrio sustentável: no Rio se mata. Na Amazônia se desmata.
1983-Com a androginia que anda em nossos palcos já não representam Édipo-Rei. Mas encenam sempre Édipo-Gay.
1984-Como são admiráveisas pessoas que nós não conhecemos muito bem!!
1985-No Brasil quem anda sempre na linha consegue apenas ser apanhado pelo trem.
1986-Diz-me com quem andase dir-te-ei quem és. Exemplo: se andas com um cara muito rico é claro que és empregado dele.
1987-Desconfio sempre de todo idealista que lucra com seu ideal.
1988-
1989-Muito topless que anda por aí está mais para insulto que para liberação.
1990-No Planalto todo mundo já sabe: Lula é apenas a nova versão de Morro dos Ventos Uivantes.
1991-O dinheiro não é tudo.
Tudo é falta de dinheiro.
1992-Verifiquem: este é o país em que fazem revolta sem convidar a Indignação!
1993-Companheiros de profissão, cuidado com a sátira! Ela pode glorificar.
1994-Quem ganha salário minímo está condenado ao fim do mês perpétuo!
1995-Você aí, não fique indigando com tanta sujeira- use nossa latrina de ouro.
1996-Um administrador que se cerca de assessores mais competentes do que ele é mais competente do que eles.
1997-Pois é: politicamente correto acabou até com o preto de alma branca.
1998-E eu, que pensava que o Mangabeira era apenas uma piada do Otto Lara Resende.
1999-Desconfio sempre de todo idealista que lucra com seu ideal.
2000-O futuro da África do Sul é negro. Sobretudo se os pretos perderem.
2001-ALÁ é o petróleo. E a Opep seu único profeta.
2002-Deus é realmente uma Inteligência Superior. Não tem nada nem parecido no Congresso Nacional.
2003-Eleição- uma forma e amarrar o dono á vontade do burro.
2004-Quem tem titica na cabeça não deve morar num país tropical.
2005-Num país socialmente perfeito, ai dos feios!!!
2006-Só há dois tipos de pessoas realmente irrecuperáveis: os homens e as mulheres.
2007-Quando uma iedologia fca bem velhinha vem morar no Brasil.
2008- Avança, Brasil!
Mas arrecua os Arfe!!!!
Abraço!
( Millor Fernandes)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Jorge Luis Borges
BORGES, SÓ MAIS UMA VEZ
“Creio que a poesia é algo tão íntimo, algo tão essencial, que não pode ser definido sem se diluir. Seria como tentar definir a cor amarela, o amor, a queda das folhas no outono... Eu não sei como podemos definir as coisas essenciais. Penso que a única definição possível seria a de Platão, precisamente porque não é uma definição, senão porque é um fato poético. Quando ele fala da poesia, diz: ‘essa coisa leve, alada, sagrada’. Isso, eu acredito, pode definir, de certa forma, a poesia, já que não a define de um modo rígido, senão que oferece à imaginação essa image3m de um anjo ou de um pássaro”.
“Sim, a arte da literatura é misteriosa. Não é menos misteriosa que a música. Bem, quiçá a literatura seja uma música mais complexa ainda que a música, já que nela se encontram não apenas a cadência das palavras e o som, senão as conotações, o ambiente e o sentido – uma poesia completamente insensata se não aceita: devemos pensar o que isso significou para alguém; sobretudo algo para a emoção de alguém. E isso é intraduzível.”
Acreditem, ler JORGE LUIS BORGES é fundamental.
“Creio que a poesia é algo tão íntimo, algo tão essencial, que não pode ser definido sem se diluir. Seria como tentar definir a cor amarela, o amor, a queda das folhas no outono... Eu não sei como podemos definir as coisas essenciais. Penso que a única definição possível seria a de Platão, precisamente porque não é uma definição, senão porque é um fato poético. Quando ele fala da poesia, diz: ‘essa coisa leve, alada, sagrada’. Isso, eu acredito, pode definir, de certa forma, a poesia, já que não a define de um modo rígido, senão que oferece à imaginação essa image3m de um anjo ou de um pássaro”.
“Sim, a arte da literatura é misteriosa. Não é menos misteriosa que a música. Bem, quiçá a literatura seja uma música mais complexa ainda que a música, já que nela se encontram não apenas a cadência das palavras e o som, senão as conotações, o ambiente e o sentido – uma poesia completamente insensata se não aceita: devemos pensar o que isso significou para alguém; sobretudo algo para a emoção de alguém. E isso é intraduzível.”
Acreditem, ler JORGE LUIS BORGES é fundamental.
Alguns conselhos de JORGE LUIS BORGES, com ligeiras adaptações. O escritor fala de literatura, mas creio que se ajustam perfeitamente àquilo que julgo ser bom no ofício de representar. Quando, por exemplo, nos chama a atenção para a importância de evitar “o cambalacho de palavras que não nos ajuda nem a sentir nem a pensar”. Ou quando sugere “trabalhar o idioma imprimindo-lhe um tom de voz própria”. Há mais uma, mais outras e esta você pode usar para a vida, até: “qualquer destino, por longo e complicado que seja, consta da realidade de um único momento: o momento em que o homem sabe para sempre quem é”. Para os que insistem/teimam no naturalismo, uma sugestão: deixem de lado a reprodução fiel do real porque elas esgotam suas possibilidades narrativas e se tornam apenas “mera verossimilhança sem invenção”. Ou, mais precisamente: “a abstração, a imprecisão, a alusão, a elipse são operações do discurso necessárias, portanto, para ativar uma educação do esquecimento que omita deliberadamente tudo aquilo que não for de interesse para as peripécias do relato”. Enfim, é preciso optar por não dilatar o relato com a “configuração psicológica das personagens e limitar-se a desenhar o perfil dos protagonistas identificando neles apenas os traços que são pertinentes à história”. Será sempre essencial “a intimidade de um tom conversacional que, alheio a qualquer ênfase rítmica, sonora ou expressiva, aspire a comunicar o fato poético, e não a declamá-lo”. É fundamental “ a busca de uma entonação que, sustentada no gesto discreto da confidência, revele a beleza da palavra poética”. E acrescento, com num punch line, “é preciso recuperar a dimensão mágica que a palavra, com o uso corriqueiro ao longo do tempo, terá perdido”. Muito grato, Borges!
Vergonha de Mim!
SINTO VERGONHA DE MIM
Sinto vergonha de mimpor ter sido educador de parte desse povo,por ter batalhado sempre pela justiça,por compactuar com a honestidade,por primar pela verdadee por ver este povo já chamado varonilenveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mimpor ter feito parte de uma eraque lutou pela democracia,pela liberdade de sere ter que entregar aos meus filhos,simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios,a ausência da sensatezno julgamento da verdade,a negligência com a família,célula-mater da sociedade,a demasiada preocupaçãocom o “eu” feliz a qualquer custo,buscando a tal “felicidade”em caminhos eivados de desrespeitopara com o seu próximo.
Tenho vergonha de mimpela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,a tanta falta de humildadepara reconhecer um erro cometido,a tantos “floreios” para justificaratos criminosos,a tanta relutânciaem esquecer a antiga posiçãode sempre “contestar”,voltar atráse mudar o futuro.
Tenho vergonha de mimpois faço parte de um povo que não reconheço,enveredando por caminhosque não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,da minha falta de garra,das minhas desilusõese do meu cansaço.Não tenho para onde irpois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hinoe jamais usei a minha Bandeirapara enxugar o meu suorou enrolar meu corpona pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti,povo brasileiro!
***
“De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderesnas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto”.
Sinto vergonha de mimpor ter sido educador de parte desse povo,por ter batalhado sempre pela justiça,por compactuar com a honestidade,por primar pela verdadee por ver este povo já chamado varonilenveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mimpor ter feito parte de uma eraque lutou pela democracia,pela liberdade de sere ter que entregar aos meus filhos,simples e abominavelmente,a derrota das virtudes pelos vícios,a ausência da sensatezno julgamento da verdade,a negligência com a família,célula-mater da sociedade,a demasiada preocupaçãocom o “eu” feliz a qualquer custo,buscando a tal “felicidade”em caminhos eivados de desrespeitopara com o seu próximo.
Tenho vergonha de mimpela passividade em ouvir,sem despejar meu verbo,a tantas desculpas ditadaspelo orgulho e vaidade,a tanta falta de humildadepara reconhecer um erro cometido,a tantos “floreios” para justificaratos criminosos,a tanta relutânciaem esquecer a antiga posiçãode sempre “contestar”,voltar atráse mudar o futuro.
Tenho vergonha de mimpois faço parte de um povo que não reconheço,enveredando por caminhosque não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência,da minha falta de garra,das minhas desilusõese do meu cansaço.Não tenho para onde irpois amo este meu chão,vibro ao ouvir meu Hinoe jamais usei a minha Bandeirapara enxugar o meu suorou enrolar meu corpona pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,tenho tanta pena de ti,povo brasileiro!
***
“De tanto ver triunfar as nulidades,de tanto ver prosperar a desonra,de tanto ver crescer a injustiça,de tanto ver agigantarem-se os poderesnas mãos dos maus,o homem chega a desanimar da virtude,a rir-se da honra,a ter vergonha de ser honesto”.
MORAL OU A GRANDE FALTA DELA
(“RELATIVO AOS COSTUMES”)
Segundo nosso querido Aurélio, a moral (feminino) é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada. E o moral (masculino) o conjunto das nossas faculdades morais; brio, vergonha.De acordo com José Ferrater Mora, em se tratando de ética (inteiramente identificada com o ou a moral), Aristóteles considerava que as virtudes éticas se desenvolvem na prática, são virtudes que servem para a realização da ordem na vida – a justiça, o valor, A AMIZADE, etc. A sabedoria e a prudência estão também nesse pacote.Minha questão é: o que está acontecendo no mundo?Onde está a moral das pessoas?Só estou vendo sordidez e falta de amor ao outro no sentido mais amplo da palavra.Só estou vendo o quanto todos estão afundando e se enxovalhando num mar de imoralidade ou melhor, amoralidade.Essas mensagens de final do ano, então, são o fim. Todos falando um monte de mentiras. Li diversos textos e um deles, em especial, conclamava que a palavra de ordem era o respeito. Que respeito? Hipocrisia, isso sim.Cadê a ação?Onde está a vontade do ser humano de fazer algo de que, realmente, se orgulhe. Pensando na vida, não furtivamente e sim com a visão de que aqui, estamos tendo reais possibilidades de aprendizados maiores.Em nome de muito pouco se põe a perder valores que nunca deveriam ser questionados.Então, gostaria de pedir a todos que me ajudem a escrever sobre o que pensam e desejam dos amigos, amores, familiares, políticos, professores, patrões, empregados ou qualquer tipo de relação humana.Onde vocês detectam mais facilmente essa falta de moral e ética que nos está assolando sem perdão?A partir do que vocês me escreverem, vou abrir forte debate sobre a questão.
Agradeço a ajuda de todos vocês.
Polaróides Urbanas
VOCÊ É TÃO VADIA QUANTO EU, POIS EU TE AMO E NEM ASSIM VOCÊ ME RESPEITA !
Essa é uma das frases geniais de Miguel Falabella em seu primeiro filme como diretor.“Polaroides Urbanas” é simplesmente comovente.Fui à estréia e voltei essa semana para assisti-lo novamente e estou pronta para assistir muito mais vezes. Quero poder comprar o filme quando estiver a disposição. Não sou de comprar filmes, mas sempre que me apaixono por alguns filmes, os compro e guardo-os como relíquias, objetos de coleção. Polaroides Urbanas é um filme desse tipo para mim, assim como os filmes de Almodóvar, Fellini etc.Eu fui apaixonada pelo texto de Como encher Um Biquini Selvagem, tão ricamente defendido por Cláudia Jimenez nos velhos tempos do Teatro Casa Grande, que, aliás, nos faz muita falta. Fui “n” vezes assisti-la.Quando fui ao filme, a maior parte dos diálogos voltavam a minha mente como se eu os tivesse ouvido ontem.Cláudia se dividia em todos os personagens o que era fantástico.No filme eles são representados pelos melhores atores que poderiam ter sido escolhidos.Seria leviano ir falando de um por um, pois TODOS estão fantásticos, sem exceção. Além de serem ótimos atores, claramente se sente a direção de um ator/diretor.Isso faz mesmo toda a diferença.Faz diferença uma pessoa como Miguel Falabella. Como poucos, aproveita cada oportunidade que a vida lhe oferece e corre atrás dos desafios com uma garra invejável.O filme é maravilhoso, deliciosamente engraçado, emocionante, com produção impecável e um bom gosto danado.Engraçado, se fala de tudo, nossos problemas afetivos, sociais, financeiros, familiares e não tem um tiro. Isso não é ótimo?Não percam.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Carta ao Zézim- Caio Fernando Abreu
Trecho da Carta ao Zézim - Caio Fernando Abreu
Porto, 22 de dezembro de 1979(...)
A solução, concordo, não está na temperança. Nunca esteve nem vai estar. Sempre achei que os dois tipos mais fascinantes de pessoas são as putas e os santos, e ambos são inteiramente destemperados, certo? Não há que abster-se: há que comer desse banquete. Zézim, ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos. Na verdade, não há caminhos. E lembrei duns versos dum poeta peruano (será Vallejo? não estou certo): “Caminante, no hay camino. Pero el camino se hace ai anda”.Mais: já pensei, sim, se Deus pifar. E pifará, pifará porque você diz ”Deus é minha última esperança". Zézim, eu te quero tanto, não me ache insuportavelmente pretensioso dizendo essas coisas, mas ocê parece cabeça-dura demais. Zézim, não há última esperança, a não ser a morte. Quem procura não acha. É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado. Tudo é maya / ilusão. Ou samsara / círculo vicioso.Certo, eu li demais zen-budismo, eu fiz ioga demais, eu tenho essa coisa de ficar mexendo com a magia, eu li demais Krishnamurti, sabia? E também Allan Watts, e D. T. Suzuki, e isso freqüentemente parece um pouco ridículo às pessoas. Mas, dessas coisas, acho que tirei pra meu gasto pessoal pelo menos uma certa tranqüilidade.Você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem.(...)Isso é o que te desejo na nova década. Zézim, vamos lá. Sem últimas esperanças. Temos esperanças novinhas em folha, todos os dias. E nenhuma, fora de viver cada vez mais plenamente, mais confortáveis dentro do que a gente, sem culpa, é. Let me take you: I’m going to strawberry fields.
sábado, 14 de junho de 2008
Chipre
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Cingapura
Vaticano
Alemanha
Alemanha
Brasil
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