MAMÃE TINHA QUATRO FILHOS E UM MARIDO QUE AMAVA, MAS NUNCA ASSOCIARA AMOR DE CASAMENTO COM OS FRUTOS DESSA UNIÃO. NÃO TINHA UM DEDINHO DE CONSIDERAÇÃO POR NÓS. O KIKO FICOU REPROVADO PELA SEGUNDA VEZ NA MESMA SÉRIE, E ELA APENAS DISSE FOLHEANDO O JORNAL: É NOVO, ANO QUE VEM PASSA.
EU PEQUENA, OLHAVA AQUELA HEREDITARIEDADE DE DESAFETO, AQUELES IRMÃOS VINDOS ANTES DE MIM SEM AFAGO DE MÃE. EU CAÇULA, OBSERVAVA E PENSAVA : QUAL SERÁ A ESCALA PARA ESCALÁ-LA? NADA. MÃE MONTANHA, MÃE GIGANTE, MÃE LONGE, NÃO IMBUÍDA DE NOS AMAR, DOS MAIS NATURAIS CUIDADOS: MERENDA, BEIJO, HISTÓRIAS NA HORA DE DORMIR...
AI, ERA UMA MÃE EXTRA MATER. PARECIA QUE ESTIVÉRAMOS TODOS FORA ELA QUANDO DENTRO. ATÉ QUE UM DIA UM IRMAO DO MEIO ADOECEU, E NOS DEIXOU. EU MAL CHORAVA.TUDO EM MIM ERAM OLHOS ESPANTADOS DE VER MINHA MÃE ASSOLADA. COMPREENDI QUE A CULPA DISPARARA NELA UM AMOR RETROATIVO, FORTE, MARAVILHOSO.SE NÃO RESSUCITARA MEU IRMÃO, TAMANHA FORÇA, EM MIM PRODUZIRA UMA EXTENSA LAVOURA DE ESPERANÇA DE AFETO.
E FORA ASSIM DESDE ENTÃO. SE ALGUÉM ADOECIA, MINHA MÃE FECHAVA AS PORTAS DO MUNDO. SÓ PRA SER DAQUELE FILHO. E EU? EU TINHA UMA FILHA DA PUTA DE UMA SAÚDE, QUE TEIMAVA EM NÃO ME LARGAR.TODO MUNDO PEGAVA GRIPE, HEPATITE, E EU BOINHA DA SILVA! ME ENCOSTAVA EM TODOS, OFERECIA PRA CUIDAR, E NADA. ELA MESMA DIZIA: ESSA NÃO PRECISA DE MIM. E EU PRECISAVA.
ENTÃO PASSEI A PERSEGUIR ACIDENTES NATURAIS.MAS NÃO TINHA CÚMPLICES, GALHOS DE ÁRVORES, FOGUEIRAS, BOMBAS, LADEIRAS.NADA QUE AJUDASSE.
UM DIA, TINHA CINCO ANOS FUI NA GRÁFICA DE MEU PAI. PENSEI; VOU MACHUCAR O DEDO, VAI DOER, TER SANGUE, CURATIVO, LÁGRIMAS, COLO, E CONSERTO. MAS A MÁQUINA ERA LÂMINA, E MINHA MATEMÁTICA POUCA. CALCULEI MAL. PUS O MINDINHO NA GUILHOTINA E FECHEI OS OLHOS PENSANDO EM MINHA MÃE, POIS A MÁQUINA DECEPARA MEU DEDO. DEIXARA APENAS A FALANGE-COTOCO PRIMEIRA, UMA BASE DE DEDO. FOI RÁPIDO. SANGUE, MUITO MAIS DO QUE PREVIA. TORPOR.
MEU PAI DESEPERADO TRAZIDO POR EMPREGADOS. VI SÓ MINHA MÃE MORRENDO DE DOR PELO DEDINHO MEU QUE PERDI E QUE EM MIM NÃO DOÍA NADA E NEM FAZIA FALTA. MINHA MÃE PERGUNTAVA SE DOÍA. E EU DIZIA SIM, MAS NÃO DÍA NADA. SE DOÍA , O AMOR DE MINHA MÃE VINDO EM LUFADAS INÉDITAS SOBRE MIM, QUE ERA UM MACHUCADO SÓ, ESTANCAVA QUALQUER DOR. SE CONFESSASSE, PODERIA PERDÊ-LA DE NOVO. FUI CRESCENDO FELIZ COM A MÃOZINHA MANCA. NA ESCOLA, PRIMEIRO DIA DE AULA, ME DIVERTIA EM ENFIAR A FALANGE VITORIOSA NO NARIZ PARA QUE A PROFESSORA PENSASSE QUE ESTAVA DENTRO DELE. ELA REPREENDIA: O QUE É ISSO CAMILA? TIRA O DEDO DO NARIZ! QUE COISA FEIA! ENTÃO EU TIRAVA A FALANGE MÍNIMA, QUEBRANDO A ILUSÃO ÓTICA NO NARIZ DA MESTRA. E ELA: Ô, DESCULPA QUERIDA, ME PERDOA, A TITIA NÃO SABIA...E ME OLHAVA COM PENA. FIZ ISSO TODO PRIMEIRO GRAU.NUNCA MAIS PERDI MINHA MÃE.NUNCA MAIS FIQUEI BOA DO DEDO, NEM RUIM DELE. NUNCA QUIS ELE DE VOLTA.QUEM QUIS FOI ELA. POR TANTO TEMPO DEI PEDAÇOS PRA SER AMADA. AGORA NÃO. MINHA MÃE QUER ELE DE VOLTA. EU NÃO QUERO MAIS NADA. TENHO MÃE. PERDI UM DEDINHO, UM MÍSERO DEDINHO PRA GANHAR UMA MÃE. ANTES DE MIM, ELA NÃO TINHA UM DEDINHO DE CONSIDERAÇÃO POR NENHUM DOS FILHOS. AGORA TEM.
