terça-feira, 21 de agosto de 2007

O DES- AMOR


O DES-AMOR

(Clarice Lispector)

(...) Não temos amado, acima de todas as coisas.Não temos aceito o que não se entende porque não queremos passar por tolos.Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro.Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada.Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda.Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios.Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar nossa vida possível.